14 de outubro de 2015

Bebê mama no peito e não fez cocô? Relaxe, não precisa medicar!

Outro dia li um post sobre essa coisa da gente ficar desesperada quando tem bebê novinho, que mama exclusivamente no peito e que passa dias (às vezes até mais de uma semana) sem fazer cocô.
Inclusive fiz amizade com uma moça em um desses grupos de mães da minha cidade justamente quando ela pedia conselhos sobre o que poderia estar acontecendo com a bebê dela.
Muitas pessoas, talvez por falta de conhecimento sobre as propriedades do leite materno, ignoram o fato dele ser altamente aproveitado pelo organismo do bebê. Eis a razão de não haver a formação de bolo fecal - mais conhecido como cocô.
O bebê que está passando por algum pico de crescimento/ salto de desenvolvimento precisa de mais energia, portanto mama mais e o organismo utiliza tudo que o leite materno tem de melhor - ou seja - tudo.
Na primeira vez em que o Pietro teve um "episódio" desses, meu marido e eu ficamos desesperados achando que podia estar com prisão de ventre. Fizemos massagem na barriguinha dele, colocamos supositório e ... Nada!
Foi então que me explicaram no GVA sobre isso ser absolutamente normal com bebês que mamam exclusivamente leite materno.
(Espero que um dia o Pietro me perdoe por ter colocado supositório nele à toa haha...)
Isso aconteceu mais algumas vezes, e depois passou.
Fico chateada quando vejo pessoas indicando um monte de remédios, chás, sucos, comidas, nesses casos. Porque o bebê novinho que está em aleitamento exclusivo já é uma figura rara de ser encontrada... E se receber algum outro alimento, pode acabar desenvolvendo alergias ou ficar ainda pior!
Então, se você estiver passando por isso com seu bebê, ou se conhece alguém que esteja, a melhor recomendação que você pode dar é: "relaxe, isso é normal!".
Não medique um organismo tão frágil sem real necessidade.

Obs: o cocô do bebê que mama leite materno é amarelinho e mole. Não é diarréia, são só a aparência e consistência normais.

Algumas curiosidades sobre o cocô de bebês amamentados

Reproduzido da página do Facebook do Grupo Virtual de Amamentação (GVA)
Link para a postagem: https://www.facebook.com/notes/grupo-virtual-de-amamenta%C3%A7%C3%A3o/algumas-curiosidades-sobre-o-coc%C3%B4-de-beb%C3%AAs-amamentados/170990602953312
Por Carlos González, 2009. Comer, amar e mamar. Madrid: Temasdehoy p.317-319.
Tradução de Sandra CP.

O primeiro cocô do recém nascido é bastante líquido, negro e pegajoso, e se chama mecônio. Logo, durante uns dias, faz as chamadas deposições de transição, muito líquidas e de cor cinza esverdeadas. Por fim aparecem os cocôs típicos do bebê de peito, semilíquidas, de consistência molinha, de cheiro agradável (para o que pode ser um cocô, se entende) e de cor amarelo dourado, mostarda (ainda também se faz em versões marrons e esverdeadas).

Estas mudanças são reflexos das mudanças na alimentação do bebê- No útero, o bebê não come nada- ainda que engula muito líquido amniótico) e o mecônio é o resultado de digerir as células da mucosa intestinal que se vai descamando durante meses (uma dieta exclusiva de carne humana) Durante os primeiros dias depois do parto, o bebê come pouco (não por falta de leite, mas porque não precisa comer muito) e por isso suas deposições são pouco mais líquidas. Os cocôs típicos do bebê amamentados indicam que está tomando uma quantidade apreciável de leite materno e são diferentes dos cocôs dos bebês de mamadeira (normalmente mais espessos, mais escuros e que cheiram mal, às vezes duros, como bolas que não mancham a fralda).

Se por volta dos cinco dias após o nascimento o bebê todavia não fizer os cocôs típicos, amarelos, com grumos e a consistência de um purê, resta suspeitar que o bebê não está mamando o suficiente (consulte um profissional da saúde que entenda de manejo de amamentação para verificar pega correta no peito e outros parâmetros).
Quando, qualquer por motivo, o bebê -ou adulto- não come o suficiente, pode voltar a fazer esses cocôs muito líquidos, cinzas-esverdeados, chamados deposições de fome. Isto explica porque muitos bebês tem otites e diarreia, catarros e diarreia, anginas e diarreia...não é diarreia verdadeira, mas sim cocôs líquidos porque, ao estar doente, se perde o apetite. Também se explica porque se abandonou o antigo costume de colocar dieta no bebê ou adulto com diarreia. Ao não comer ou comer pouco, a diarreia se prolonga, comendo de tudo a diarreia se cura antes.

Durante as primeiras semanas, as deposições normalmente são muito frequentes. Os bebês fazem cocô a cada mamada, parece que se não cabem as duas coisas num corpinho tão pequeno, para meter algo se deve expulsar algo. Mas alguns não fazem tantos, senão “só” quatro ou cinco vezes ao dia. E outros fazem ainda mais cocô entre uma mamada e outra, inclusive, mais de vinte vezes ao dia.

Tudo isso é completamente normal, não é diarreia, e portanto, não se deve fazer nada: nem deixar de lhe dar o peito, nem lhe dar água, nem outros líquidos, nem medicamentos, nem nada. É difícil que um bebê que só tome leite materno tenha diarreia de verdade. Ainda que, com certeza, pode acontecer.

A diarreia se detecta por uma mudança repentina nas deposições muito mais líquidas e abundantes que o dia anterior, ou por presença de outros sintomas, como sangue na cocô ou febre. Sem dúvida, muitas diarreias leves em bebês de peito passam completamente desapercebidas, fica como se ele tivesse feito 6 ou 8 cocôs ao dia!

Pouco depois, entre 1 mês e meio e 6 meses (alguns pouco antes ou depois), ainda que o mais frequente seja entre 3-5 meses, os bebês amamentados exclusivamente passam por uma temporada em que quase não fazem cocô. Então, se esse bebê exclusivamente amamentado tomar um pouco de LA, já muda seu cocô.

Há algumas décadas eram muito pouco comuns os bebês espanhóis que chegavam aos 3 meses amamentados, e não digamos exclusivo. Então, muitas mães e avós, assim como muitos pediatras e enfermeiras, não sabem que isso é normal.

Mas atualmente, cada vez mais bebês são amamentados exclusivamente por 6 meses. Nesses casos, vemos que realmente é raro que o bebê faça cocô todos os dias. A maioria faz a cada 2-3 dias, muitos a cada 5 ou 7 dias. Se você frequenta um grupo de mães lactantes, não lhe será difícil conhecer algum bebê que esteve 10 ou 12 dias sem fazer cocô. Pessoalmente, já vi um bebê que esteve 24 dias sem evacuar, e o Dr. Jack Newmam, médico canadense especialista em amamentação, já relatou dois bebês (amamentados exclusivamente) que estiveram mais de 30 dias sem fazer cocô.

Então esses bebês, quando finalmente fazem cocô, é completamente normal, semilíquido ou pastoso, como costumava fazer antes. E fazem em grande quantidade. Não pense em pesar o bebê antes e depois de fazer cocô, , porque você levaria um susto de morrer. Tudo isso é perfeitamente normal, mas não é prisão de ventre. Repito, não é prisão de ventre porque não fazem bolas duras e secas.

Entretanto, você encontrará alguns pediatras que não sabem que um bebê pode passar dias sem evacuar, e tratará ao seu filho como se estivesse com prisão de ventre verdadeira. Algumas avós ou cunhadas “enchem o saco”, mas mantenha-se firme! Não se deve dar NADA ao bebê: nem água, nem suco de laranja, nem outros sucos, nem chás de ervas, nem remédios naturais, tradicionais, laxantes. Não se deve fazer-lhe lavagem, nem colocar supositórios de glicerina, nem de nenhum tipo, nem meter no bumbum do bebê um termômetro, nem raminho de salsa, nem azeite de oliva...Nada de nada!!

Algumas mães asseguram que o seu filho está incomodado e choroso, quando leva uns dias sem fazer cocô, e que quando faz, lhe passa todos os males. Mas, a maioria diz que seu filho está super bem. É pouco arriscado colocar em dúvidas o que uma mãe afirma, porque ela quase sempre tem razão, mas para mim é bastante difícil crer que esse cocô mole, às vezes, líquido, possa causar dores ou incômodos sérios nos bebês.

Na verdadeira prisão de ventre sem dúvida, o bebê sente dores: evacuar essa bola dura deve doer e é possível que comece a doer antes, antes que saia, a medida que vai passando pelo intestino. Mas, um cocô mole? Me parece que ao não fazer cocô ocorre o mesmo com os dentes: coloca culpa em algo que é pura coincidência...

Se o seu filho não passa por esta fase, se segue fazendo vários cocôs ao dia durante toda a amamentação, não há problema algum, isso também é normal.

Se ao contrário, durante o primeiro mês ou um mês e meio, não faz vários cocôs ao dia, também pode ser normal, mas comprove o peso. A essa idade, alguns bebês fazem pouco cocô porque não mamam o suficiente. Se o peso vai aumentando o suficiente, então não há problemas.

Se desde o mesmíssimo dia do nascimento, seu filho faz cocô uma vez cada vários dias, se não passou nenhuma temporada- curta ou longa- de fazer várias vezes ao dia, consulte o seu pediatra. Poderia ser normal, mas também poderia ter um problema digestivo. Preste atenção, se ao menos, o bebê solta um peidinho, é um bom sinal.

Observação- no GVA costumamos chamar essa ‘constipação’ do bebê amamentado exclusivamente, de acordo com a literatura em língua portuguesa, de ‘pseudo-constipação do lactente’.


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