4 de outubro de 2014

Sobre respeito e autonomia - Pietro agora usa brinco

Bebês não conseguem fazer escolhas, pois ainda se encontram em fase de desenvolvimento e amadurecimento cerebral. Mas crianças já conseguem - e devem - ter o poder de fazer algumas escolhas sob orientação dos pais.
Sempre achei péssimo querer obrigar um outro ser humano a ser, vestir-se e se comportar de acordo com as expectativas alheias. Afinal, devemos ser livres para tomarmos nossas próprias decisões não é mesmo?
No caso das crianças, me refiro a decisões mais simples como o que querem vestir, com que brinquedo preferem brincar... Acho que dando a opção de que se faça uma escolha, vai-se incentivando a autonomia de que ela vai precisará para o resto da vida...

Nos últimos dias, o Pietro começou a me pedir para colocar brinco.
"- Quero um brinco azul, de menino, em uma orelha só mamãe."
Na primeira vez que ele pediu, não dei bola. Achei que logo ele esqueceria.
No dia seguinte, a mesma coisa.
"- Mas filho, vai ser como colocar um piercing, vai doer e você não vai gostar. Você já me viu fazendo piercing e tatuagem, dói. Tem que querer MUITO."
"-Mamãe, eu quero MUITO pôr um brinco."
Falei pra ele pensar, tentei mostrar que ele poderia sentir dor... Mas nada adiantou.
Foi uma semana inteira nos pedindo pra furar a orelha. Pois bem.
Fomos até a farmácia do shopping, e chegando lá ele escolheu o brinco. O funcionário da farmácia nos chamou na salinha para fazer a perfuração, e fomos os três, juntos.
Confesso que eu já estava suando frio, nervosa. Meu marido também comentou depois que tinha ficado bastante apreensivo, pois tínhamos receio dele sentir dor e se desesperar.
Nada disso aconteceu.
Pietro ficou calmo enquanto o farmacêutico preparava aquela "arminha", e foi conversando com ele o tempo todo.
Seguramos as mãozinhas dele pra mostrar que estávamos ali, o apoiando. E então ele soltou um "Ai!" - e foi isso.
Ele saiu da salinha da farmácia já de brinco, todo orgulhoso e feliz.
Na hora de passar no caixa, a moça disse que eu era uma "mãe legal" por ter deixado meu filho furar a orelha. E eu fiquei pensando em quantas coisas a gente ainda carrega mesmo depois de anos...
Por quê achamos NORMAL (culturalmente) furar orelhas de meninas recém-nascidas, e DIFERENTE fazer o mesmo com uma criança, menino ou menina já crescida?
Não sou uma "mãe legal", uma mãe moderninha, alternativa ou sei lá mais do quê gostam de rotular pais que procuram melhorar, ao invés de repetir cegamente coisas que não foram legais no passado... Estou fazendo minha obrigação, que é de oferecer escolhas pro meu filho, sobre o próprio corpo.
É a nossa chance de criarmos adultos mais conscientes e responsáveis pelos seus atos. Só acho.

Uma matéria que achei bacana, pra gente refletir um pouco:

Contra vaidade, mães optam em não furar orelha das filhas

Segundo a pediatra, é mito dizer que o bebê sente menos dor do que uma criança para furar a orelha ou tomar vacina, por exemplo. “Existe uma cultura de que ‘bebês não sentem dor’ e que se furar quando a menina é recém-nascida ela sente menos do que quando é maior, o que não é verdade”, relata.

Leia na íntegra aqui.


Nenhum comentário:

Postar um comentário