5 de julho de 2015

Mais humanidade, menos complexo.


"A mulher leva uma anestesia na coluna que pode lhe lesar para sempre, algumas são aplicadas mais de uma vez e provavelmente irão causar alguma reação.

Depois...

Tem sete camadas do seu próprio corpo cortadas, uma a uma, até chegar ao útero, e depois tem essas sete camadas costuradas.
Continuando...
Ao levantar pela primeira vez, após o efeito da anestesia passar, sente que o mundo desabou em cima da sua cicatriz. Se sente fraca, tonta, enjoada, aflita e ainda assim, com toda a dor, fica de pé.
Tem um pós difícil, e apesar de alguns serem mais tranquilos que outros, não deixa de ser incômodo, e mesmo assim, com SETE camadas costuradas, cuida do filho, da casa e das obrigações.
Moral da história: Diga tudo! Só não diga que a mulher que opta pela cesárea é MEDROSA, COVARDE e FRACA.
Como eu sempre digo: "Realmente, não é toda mulher que deixa se cortar e carregar em seu corpo uma cicatriz eterna para trazer seu filho(a) ao mundo..."."


Tenho visto esse texto de autoria desconhecida sendo bastante compartilhado na internet, por mães que como eu passaram por cesariana(s), e até como um tipo de "resposta" àquelas que divulgam o parto normal...
Posso estar errada - sim, muito errada - mas às vezes penso que as pessoas não perceberam a mensagem que está por trás dele. É duro encarar, mas a realidade da cesariana é que ela é uma cirurgia de grande porte, muito arriscada quando feita sem real necessidade.
Eu leio isso: "anestesia na coluna..", "sete camadas de pele", e penso que é uma ilusão acreditar que a cesariana é sinônimo de evitar sentir dor.
Ela pode não ser tão dolorida no momento do nascimento do bebê, mas pode trazer outras dores, outras complicações. E se não dói nada (como no meu caso), imagino o tanto de remédios que foi necessário tomar para não sentir nadinha tendo 7 camadas de peles cortadas!
Imagem: Internet
Outra coisa que o texto menciona, é sobre chamarem quem passa por uma cesariana de "medrosa, covarde e fraca". Devo ser uma pessoa de sorte, porque desde 2009 até hoje, nunca sofri nenhum tipo de discriminação ou coisa do tipo, por ter feito uma eletiva.
Nunca fui xingada em grupos sobre maternidade por causa da cesárea, e olha que frequento os grupos "dazíndia" - como são chamadas as ativistas pela humanização do parto.
E convivo com amigas bem próximas que são ativistas, também.
Pelo contrário, foi através desses grupos que fui passando a entender que o movimento pela humanização do parto (como já diz o nome) é um movimento para que as mulheres tenham uma experiência de parto sem violência obstétrica, mais humana, sem procedimentos desnecessários, sem sofrimento, já que é um acontecimento natural do nosso organismo.

Ninguém quer obrigar todas as mulheres a terem um parto normal, ninguém quer e nem pode obrigar a nada. 
É até ridículo pensar assim.

Tudo que eu tinha ouvido sobre o "parto normal" quando engravidei, eram os relatos da minha própria mãe que dizia ter passado muito sofrimento, porque teve que fazer a tal lavagem intestinal, o "pic"(corte no períneo)... E até pouco tempo esses eram mesmo procedimentos padrões de qualquer maternidade.
Hoje em dia, graças a esse movimento pela humanização do parto, sabemos que tais procedimentos são desnecessários e mais - são violência obstétrica - a mulher tem direito de não querer passar por nenhum deles.

Então, a ideia que eu tinha de um parto chamado "normal", infelizmente é o que hoje em dia é chamado de "parto frank, ou frankenstein, cheio de intervenções desnecessárias e violência, que acontece até os dias de hoje com muitas mulheres. E que, para evitarem isso, preferem se arriscar numa cirurgia de grande porte.
Algumas morrem, outras têm complicações nos pontos, mas a maioria dos bebês nasce prematuro.
A função do movimento pela humanização do parto é acabar com a violência obstétrica, para que a mulher seja a protagonista de seu parto.
Vejo muitas mulheres que passaram pela cesariana se sentindo ofendidas com vídeos de partos naturais, na água, domiciliares, hospitalares, etc. Partos respeitosos.
Isso pra mim, não faz sentido, mas talvez esses relatos e vídeos mexam com alguma coisa que está lá dentro, que dói... Talvez um sentimento de frustração, não sei.
Eu, que passei por uma cesariana eletiva porque tive medo das dores das contrações, me emociono MUITO mais com vídeos de partos naturais do que com vídeos de cesarianas.
E penso que tive uma coragem muito grande, aliada à falta de informação para ter escolhido a cesariana.
Esse aqui é o nascimento do meu próprio filho, um trechinho que já dá pra sentir o ambiente frio em que nós estávamos.
Assim que ele nasceu, ao invés de o trazerem pra mim, o levaram para fazer todos os procedimentos-padrão e só depois pude vê-lo.
A única emoção que dá pra perceber no vídeo, é do meu marido que estava vendo por cima daquele pano que colocam à nossa frente...
E do Pietro, que começa a chorar quando percebe que foi tirado de dentro da mamãe...

Então, o que quero dizer é que não vale a pena ficar remoendo sentimentos ruins ou momentos que não voltarão. O que vale a pena é erguer a cabeça, encher o coração de amor para exercermos a maternidade da melhor forma que pudermos, e parar com qualquer tipo de "guerrinhas", porque elas são chatas demais! Além de inúteis, claro.
Vivemos na Era da informação, temos condições de buscar e entender sobre vários assuntos e precisamos apoiar umas às outras para que o parto volte a ser uma dádiva da mulher - e não do médico. Afinal de contas, o dever dele é estar ali para assistir, auxiliar com a medicina modern, salvar vidas quando é realmente necessário.
Ser mãe requer coragem sempre, até para entender que algumas decisões poderiam ter sido evitadas, ou que podem ter sido melhores escolhas. E saber conviver com isso de forma positiva, encarando tudo como um grande aprendizado.
Vamos aprendendo sempre.

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