Quando fiquei grávida, decidi fazer um blog para ir compartilhando minhas experiências de cada fase, e também para dividir com outras mães todas as informações que fui encontrando e que foram (e têm sido) muito importantes. Blogs e grupos no Orkut e no Facebook - quando bem utilizados - podem ser de grande utilidade pública e auxiliar bastante na divulgação de informações atualizadas com embasamento científico moderno, e me ajudaram desde a gravidez até os dias de hoje.
Pois bem.
Só que recentemente tenho presenciado uma grande desunião entre as mulheres que participam desses grupos, e que simplesmente não percebem que através de disputas sem sentido (como a de quem é menos ou mais mãe por n motivos) e julgamentos descabidos, vamos nos enfraquecendo.
Numa sociedade ainda extremamente patriarcal, onde a figura masculina exerce poder sobre decisões, leis, regras e costumes, quem é que mais se "beneficia" com esse enfraquecimento das mulheres?
De uns anos pra cá tenho visto blogs e grupos de discussão sobre maternidade deixando de serem canais informativos e de troca de experiências, para virarem palco de brigas e discórdia. E pra quê, mesmo?!
Isso tem me desanimado bastante, viu. Vejo que tanto a postura das que ficam na defensiva considerando tudo como ofensa ou julgamento; quanto as que se colocam como superiores, só servem para atrapalhar na divulgação de informações importantes, causar desunião, e frustração das que estão interessadas em promover exatamente o contrário disso tudo.
Por isso às vezes penso seriamente se devo desativar o blog e a página no Facebook. Se não consigo alcançar meu objetivo, que é simplesmente o que coloquei ali no começo do texto, qual a razão de continuar então?
Se for pra ser "cada uma no seu quadrado", então não faz sentido ter um blog para compartilhamento de idéias...
Enquanto isso vou deixando rolar, já que pode ser uma fase, sei lá. Espero que seja mesmo.
Não estamos em uma competição.
Não somos perfeitas e essa "perfeição" nem existe.
Precisamos de união, respeito e informação. Mais diálogo, também, por favor.
Esse é o tal "empoderamento" de que se ouve falar. As mulheres precisam se empoderar JUNTAS.
29 de junho de 2014
18 de junho de 2014
Livro Besame Mucho, Carlos González (Traduzido)
Recomendo o livro Bésame mucho, do Dr Carlos Gonzalez fortemente à todas as mães, pais e educadores que tenham interesse em entender melhor sobre as fases de desenvolvimento do bebê/criança, sem aquele mito de que carinho demais "estraga" a criança. Porque sinceramente nunca vi ninguém traumatizado ou problemático porque recebeu muito carinho dos pais.
Carlos González Rodríguez (Zaragoza, 1960 -), é um médico pediatra e autor de vários livros sobre criação, alimentação e saúde da criança. Ele é casado e tem três filhos.
É fundador e presidente da Associação Catalã para a amamentação. Membro do Conselho de Assessores de Saúde La Leche League International. Assessor da Iniciativa Hospital Amigo da Criança para a Infância (UNICEF). Consultor de lactação, da Universidade de Londres.
Ele tem ensinado desde 1992, mais de 100 cursos sobre aleitamento materno para profissionais de saúde. Traduziu vários livros sobre o assunto, além de ser responsável pela clínica de amamentação Magazine "Parenting".
Livros publicados por ele (títulos traduzidos para o português):
Carlos González Rodríguez (Zaragoza, 1960 -), é um médico pediatra e autor de vários livros sobre criação, alimentação e saúde da criança. Ele é casado e tem três filhos.
É fundador e presidente da Associação Catalã para a amamentação. Membro do Conselho de Assessores de Saúde La Leche League International. Assessor da Iniciativa Hospital Amigo da Criança para a Infância (UNICEF). Consultor de lactação, da Universidade de Londres.
Ele tem ensinado desde 1992, mais de 100 cursos sobre aleitamento materno para profissionais de saúde. Traduziu vários livros sobre o assunto, além de ser responsável pela clínica de amamentação Magazine "Parenting".
Livros publicados por ele (títulos traduzidos para o português):
- Meu filho não quer comer (1999)
- Besame Mucho, como criar seus filhos com amor (2003)
- Manual Prático da amamentação (2004)
- Um presente para a vida, guiar a amamentação (2006)
- Comer, amar, de enfermagem (2009)
- Entre seu médico e você (2010)
- Em defesa de vacinas (2011)
- Crescendo Juntos (2013)
16 de junho de 2014
Graduação e Maternidade: SIM, é possível!
Pra quem não sabe ou não lembra, larguei a licenciatura em Letras quando fiquei sabendo que estava grávida, em 2009.
Depois disso, fiquei com a sensação de que precisava ter um certificado de graduação, já que hoje em dia o mercado de trabalho vê graduação como o básico para se tentar qualquer oportunidade profissional. Foi então que em 2012 resolvi que faria um curso de menor duração e a distância.
Não quis terminar Letras porque já estava enjoada das matérias e queria aprender coisas novas. Optei pelo curso de Comércio Exterior, e aprendi bastante. Mas passei vários sufocos pra conseguir estudar.
Trabalhando durante o dia, a noite eu queria descansar e dar atenção ao Pietro... Mas em alguns momentos tive que estudar, e principalmente no fim de semana...
Combinava com meu marido pra ele ficar brincando com o Pietro, enquanto eu ia estudar, no quarto.
E ainda tem gente que acha que curso a distância (online) é fácil. Que nada, só tem noção do quanto é difícil, que já fez.
E depois de 2 anos nesse aperto, fiz minha última prova semana passada.
Já sei a nota, então estou muito - mas muito - aliviada por ter completado uma etapa da minha vida, e saber que não foi fácil.
Mas sim, é possível continuar estudando. Tem que perseverar muito, se desdobrar em várias e não desistir.
Só tenho a agradecer meu filho e meu marido pelo esforço e apoio.
E encorajar outras mães a fazerem o mesmo, não abandonarem seus objetivos. Estudar é bom, sempre! :-)
Sobreviventes novamente.
Bebê nasce e chora bastante. Dá-lhe uma chupeta na boca. Melhor ainda se for mergulhada no açúcar, que é pra ficar quieto mesmo.
Não dorme a noite? É só encher a barriga com algo pesado, engrossado.
Criança cresce e não quer ficar parada na frente da TV? Deve ser TDAH, tem que dar Ritalina pra acalmar.
Adolescente contestador? Manda pro psiquiatra. Lá ele receita uns antidepressivos e ansiolíticos que vão deixar ele chapado, assim pára de questionar.
Quando adulto, tem que se matar de trabalhar pra ser bem-sucedido. Mais uns tarjas-pretas pra aguentar a pressão durante a semana, e no fim de semana tem os cigarros e a bebida pra desestressar.
Comida é o que tiver mais prático, não do mais saudável. Saudável é caro e não tem gosto bom.
E assim vamos (sobre)vivendo.
Envelhecemos, temos câncer e mais um monte de doenças.
Sempre foi assim, e sempre será. Mesmo sabendo onde tudo isso vai dar.
Por quê? Porque quando chorei, me silenciaram.
Quando questionei, me doparam.
Quando me tornei dono de mim, já não tinha tempo nem disposição.
E quando acordei, era tarde demais.
Ser diferente pra quê? Tentar pra quê?
Somos sobreviventes e isso já basta.
Desculpem o desabafo, mas tenho visto coisas ultimamente que me fazem acreditar que muita gente pensa assim mesmo hoje em dia...
Não dorme a noite? É só encher a barriga com algo pesado, engrossado.
Criança cresce e não quer ficar parada na frente da TV? Deve ser TDAH, tem que dar Ritalina pra acalmar.
Adolescente contestador? Manda pro psiquiatra. Lá ele receita uns antidepressivos e ansiolíticos que vão deixar ele chapado, assim pára de questionar.
Quando adulto, tem que se matar de trabalhar pra ser bem-sucedido. Mais uns tarjas-pretas pra aguentar a pressão durante a semana, e no fim de semana tem os cigarros e a bebida pra desestressar.
Comida é o que tiver mais prático, não do mais saudável. Saudável é caro e não tem gosto bom.
E assim vamos (sobre)vivendo.
Envelhecemos, temos câncer e mais um monte de doenças.
Sempre foi assim, e sempre será. Mesmo sabendo onde tudo isso vai dar.
Por quê? Porque quando chorei, me silenciaram.
Quando questionei, me doparam.
Quando me tornei dono de mim, já não tinha tempo nem disposição.
E quando acordei, era tarde demais.
Ser diferente pra quê? Tentar pra quê?
Somos sobreviventes e isso já basta.
Imagem Site Camaleao.org |
Desculpem o desabafo, mas tenho visto coisas ultimamente que me fazem acreditar que muita gente pensa assim mesmo hoje em dia...
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7 de junho de 2014
Sobreviver não é viver sem traumas.
Nessa última semana o Senado aprovou a Lei Menino Bernardo - antiga Lei Anti-Palmada (leia na íntegra aqui e desde então, o que seria motivo de comemoração para as crianças no Brasil serem teoricamente mais protegidas pela legislação contra a violência, acabou virando polêmica.
As pessoas não estão procurando se informar sobre a lei, e assim, fazem julgamentos totalmente equivocados. A impressão que tenho é de que as pessoas acreditam que se encostarem um dedo nos filhos, algum alarme vai soar e o FBI vai bater à porta delas.
E então alguns canais informativos como blogs, sites e páginas em redes sociais têm procurado esclarecer as falácias que andam espalhando por aí.
Tenho feito isso em nossa página do Facebook e no meu perfil pessoal também. Mas preciso confessar que as vezes perco a paciência. Principalmente quando vejo pessoas se gabando por terem apanhado na infância e terem "sobrevivido" - mais uma vez a teoria dos sobreviventes...
Eu apanhei, e apanhei até depois de grande. Procuro esquecer os momentos difíceis que passei, mas levo como experiência para saber como NÃO QUERO fazer com o meu filho.
Pra falar a verdade o que sinto no fundo, é PENA dessas pessoas que acham que a violência as educou. Mas como me falta conhecimento pra explicar esse tipo de sentimento, achei de grande utilidade reproduzir esse texto da página Crescer sem Violência e quem sabe assim, algumas pessoas passem a pensar melhor sobre elas mesmas antes de tentarem se enganar. E pior: cometer com os filhos hoje, os mesmos tipos de agressão que sofreram no passado.
Por que as pessoas negam os traumas de infância e seus resultados?
Por que as pessoas tendem a pensar que tiveram uma infância boa, uma infância normal, ou negam traumas de infância e seus resultados completamente?
Sempre ouço pessoas dizerem coisas como:
Minha infância foi normal.
Sim, houve algumas coisas boas e algumas coisas ruins - mas assim é a vida.
Minha mãe ficava triste, distante ou com raiva quando eu não fazia algo direito ou agia mal, e meu pai às vezes me batia com um cinto -, mas foi para o meu próprio bem. Tudo isso me ajudou a tornar uma pessoa melhor - e eu agradeço por isso.
Sim, às vezes eu me sinto muito deprimido, solitário ou vazio - mas todos nós nos sentimos assim.
Meus pais eram rígidos, mas eles me amaram e deu tudo certo.
Sim, algumas pessoas foram abusadas na infância, mas eu não, não tenho trauma algum.
Eu olho para essas pessoas e posso ver facilmente os sintomas dos traumas de infância. Eu vejo crianças sendo abusadas, e eu vejo os adultos com numerosas feridas internas por terem sido traumatizados. É óbvio para mim. Vejo traumas de infância e seus efeitos ao meu redor a todo momento, em todo lugar. Isso acontece atualmente e sempre aconteceu em qualquer momento na história humana.
Para mim, as pessoas que negam parecem querer dizer algo assim:
Minha perna está sangrando muito, e eu estou mancando – Mas eu tenho uma perna forte, saudável e totalmente funcional.
Você vê todas essas pessoas sangrando? Elas estão muito bem.
Sim, eu fui esfaqueado na perna - mas eu mereci e foi para o meu próprio bem!
Claro, se as pessoas dizem que a sua infância foi normal, ou seja, como a das outras pessoas, então elas estão certas. No entanto, "normal" (=comum) não significa normal, isto é, saudável e feliz - significa apenas que o normal é a norma social.
Mas se especificamente trauma de infância e seus efeitos são fenômenos tão comuns, hoje e historicamente, então por que tantas pessoas negam?
As razões fundamentais são:
1. Amnésia dissociativa
Você conhece pessoas que não se lembram de sua infância ou lembram muito vagamente? Pessoas que não recordam de anos, ou mesmo décadas de suas vidas?
Quando as crianças experimentam trauma severo e prolongado, elas muitas vezes esquecem, pois sentem que reter esta informação em sua consciência pode ser muito perigoso. Quando se é criança em geral é isto que acontece. Portanto, crianças traumatizadas não têm outra escolha a não ser se dissociar. Isso significa esconder suas experiências dolorosas no inconsciente.
Estas memórias não surgem de forma consciente se nós não estivermos emocionalmente preparados para tanto. Quando as pessoas começam a se curar e crescer mais fortes, elas lentamente começam a relembrar e lidar - embora às vezes com bastante sofrimento – com informações importantes a respeito de suas vidas.
2. Ignorância e indiferença
As crianças não sabem o que é abuso, negligência, abandono, trauma, estresse pós-traumático, saúde mental, infância saudável, como um ser humano normal parece, e como um relacionamento saudável é. As crianças não têm ponto de referência, comparação; elas não compreendem a história psico-emocional dos pais e o contexto socioeconômico a que pertencem. Elas só sabem o que vivenciam e são ensinadas.
Por exemplo, se a mãe bate no filho, a criança não compreende todas as circunstâncias complexas que levaram a isso. (Muitas vezes, nem tampouco a mãe entende.) O que toda criança sabe é que sua mãe a está machucando e isso dói - e que ela precisa da mãe para sobreviver. Portanto, é uma experiência extremamente traumática, e as circunstâncias que levaram a isso não anulam as reações e emoções da criança.
Quando a criança traumatizada cresce sem ter investigado a sua história e as questões de trauma e de saúde mental, ela permanece ignorante e indiferente. Infelizmente, a maioria das pessoas são ignorantes e indiferentes a respeito. Muitas delas fazem de TUDO para permanecer na ignorância - e grande parte consegue – já que analisar o próprio passado e as pessoas ao seu redor é extremamente doloroso para elas. Mais doloroso do que não viver.
Portanto, não é de se surpreender que exista tanta disfunção em torno de nós, e que o entendimento de saúde mental seja tão distorcido.
3. Síndrome de Estocolmo
Crianças que vivem em um ambiente insalubre dissociam e distorcem a realidade, para conseguir sobreviver. "Minha mãe é ruim para mim. Eu preciso da minha mãe para sobreviver. Eu não posso sobreviver se minha mãe for ruim, e eu não posso ter outra mãe. Então, minha mãe é boa."
Síndrome de Estocolmo é um fenômeno psicológico onde a vítima desenvolve empatia pelo seu agressor, o justifica e o defende, ou mesmo experencia sentimentos agradáveis em relação a ele (por exemplo, acha que existe amor entre eles). Este vínculo doentio pode ser visto entre uma criança e seu cuidador, uma vítima de abuso sexual e seu molestador, em relacionamentos amorosos ou amizades patológicas, e em outros tipos de relação onde a disparidade de poder está presente.
4. Regras disfuncionais/imposição de culpa, vergonha e medo
Ame seus pais! Respeite os mais velhos! Escute as autoridades! Seja bom/boa [ou seja obediente]! Não confie em si mesmo, você não sabe muito! Não faça perguntas! Não responda! Não cometa erros! Não se sinta assim! Supere isso! Meninos não choram! Boas meninas sempre fazem o que lhes mandam fazer!
Se as crianças estão traumatizadas e não lhes é permitido julgar racionalmente o comportamento dos seus pais e de outras pessoas, elas começam a idealizá-los, culpam a si mesmas, e justificam os abusos que sofreram. Esta é a origem da culpa crônica, vergonha, sentimento de culpa e falta de confiança em si mesmo. Emocionalmente, isso é muito doloroso, por isso as crianças (que mais tarde se tornam adultos) tentam evitar essa dor, se livrar dela ou aliviá-la. É mais fácil simplesmente dizer: "Minha infância foi normal", e continuar o processo de dissociação.
5. Incapacidade de pensar racionalmente
Porque a maioria das pessoas já experimentou algum trauma significativo relacionado à cognição e acabou se tornando um adulto que não aprendeu a pensar racionalmente - ele não tem a habilidade para fazê-lo de forma apropriada. Muitas pessoas não sabem como avaliar objetivamente a si mesmas (por questões de auto-estima), aos outros (por questões de falta de confiança e bom senso), e ao mundo em si (por falta de compreensão fundamental sobre como o mundo funciona e várias distorções da realidade). Falta a estas pessoas não apenas a compreensão do que é verdadeiro, mas a capacidade de como descobrir se algo é verdadeiro ou falso.
Uma vez que essas pessoas têm déficits cognitivos, ou seja, falta de habilidade para raciocinar logicamente, suas crenças, sua visão de mundo, seus pontos de vista corriqueiros estão geralmente baseados em emoções que eles não entendem, e não numa avaliação racional e complexa dos fatos em si. Quando se sentem bem, então é bom ou verdadeiro. Quando se sentem mal, então é ruim ou falso.
Nossa cultura é baseada na negação, na insegurança, em regras inconsistentes, na conformidade, e no apelo emocional - e não na verdade, na empatia genuína, em princípios consistentes e universais, na individualidade e racionalização.
6. Medo social
Assim como as crianças, na maioria dos casos não se permite que as pessoas falem sobre os abusos que sofreram. Como adultos, as pessoas evitam reconhecer os traumas que viveram e seus resultados, porque eles ainda temem a reação de outras pessoas: de zombaria, minimização, condenação, sarcasmo, incompreensão, defesa dos agressores, ataques, etc.
Se uma Pessoa A diz à Pessoa B que a Pessoa A teve uma infância dolorosa, e que ela vê os resultados do abuso infantil em seu redor, a pessoa B, querendo ou não, vai ter que pensar na própria infância, ao menos um pouco. É muito provável que a pessoa B também tenha tido uma infância difícil. Portanto, para a pessoa B aceitar e validar a experiência traumática da Pessoa A, significaria - pelo menos até certo ponto - reconhecer a dolorosa verdade sobre seu passado, as relações atuais e a sociedade. Isso seria extremamente doloroso. É mais fácil para
a pessoa B agir de tal forma que faça a pessoa A parar de falar, de modo que a pessoa B possa reter a fantasia chamada "Eu estou bem; está tudo bem." Ela pode conseguir isso usando negação, minimização, zombaria, ataque com raiva, distração e outras táticas mencionadas no parágrafo anterior.
Mesmo que seja verdade que sejamos adultos agora, é uma situação diferente, não somos crianças indefesas mais, e podemos falar a verdade; mas tais reações sociais para muitas pessoas ainda podem ser muito dolorosas e re-traumatizantes. Pessoas [tóxicas] vão fugir ou atacá-lo por falar sobre o abuso de crianças. Trauma infantil ainda é tabu e "norma" na sociedade atual - e falar "mal", ou seja, a verdade sobre as pessoas que tinham poder sobre você (seus professores, padres, e, especialmente, membros da sua família) - não é aceitável. Portanto, é compreensível que, apesar de algumas pessoas conhecerem em algum grau a verdade, eles ainda podem ter medo de falar sobre o assunto abertamente.
7. Culpa parental
É ainda mais difícil de olhar para o tema do trauma de infância, se você já tem seus próprios filhos. Neste caso, você não está apenas lidando com todos os complexos desafios mencionados acima, mas existe uma camada adicional de dificuldade: a responsabilidade parental. Se você tem filhos antes de resolver a sua própria história pessoal e curar suas feridas internas, você inevitavelmente irá traumatizá-los (não importa se isso acontecer de forma deliberada ou por ignorância e com a melhor das intenções - ver Razão # 2).
Se você é pai/mãe, então esse assunto é extremamente difícil de explorar, porque você não está apenas processando o seu relacionamento consigo mesmo, seus pais, professores, amigos, parceiros românticos, sociedade em geral; mas também com o seu filho – alguém por quem você é responsável. Para entender que você vem sofrendo décadas de traumas graves e que você tem inúmeras feridas internas é bem difícil. Mas se você já tem seu próprio filho e começa a perceber o trauma que eles sofrem por sua causa, então todo este processo é mais difícil ainda, é extremamente doloroso.
8. Falta de empatia
Já escrevi sobre a empatia em artigos anteriores, portanto, não vou me repetir aqui. Mas em suma, a empatia é provavelmente um dos fatores mais importantes para acabar com o ciclo de violência e viver uma vida verdadeiramente próspera. Você não pode sentir empatia genuína ou simpatia para com os outros, se você estiver emocionalmente desconectado de si mesmo e de sua criança interior. E você não pode ter uma verdadeira empatia ou simpatia consigo próprio se você não tiver feito uma quantidade significativa de auto-análise.
Adendo
Provavelmente, há mais razões para que as pessoas neguem os traumas de infância e seus efeitos, e, como você pode perceber, eles estão interligados.
A negação do trauma infantil, em geral, está relacionada a medo/segurança ("É perigoso pensar ou falar sobre o que sinto"), e à disfunção do próprio aparelho emocional e cognitivo. Esta é uma esfera extremamente dolorosa para explorar, e isso requer muita coragem, capacidade mental, força, determinação, paciência, apoio e outros recursos.
Então, para aqueles que estão nesta jornada de auto-análise, que estão corajosamente tentando romper o ciclo de violência, curar e prosperar - Eu te admiro! Sei por experiência própria o quanto é difícil; pode ser uma experiência muito dolorosa, triste, solitária, estressante, e às vezes aparentemente sem esperança; então eu realmente admiro a sua coragem.
Se você quiser, pode me considerar seu aliado - mesmo sem me conhecer. E, claro, você é sempre bem-vindo para deixar um comentário ou entrar em contato comigo através de qualquer outro meio.
Texto original publicado em: http://blog.selfarcheology.com/2013/10/why-people-deny-childhood-trauma-and.html
Autoria: Darius Cikanavičius, terapeuta e consultor emocional.
Tradução: Andréia Stankiewicz/Crescer Sem Violência
Reproduzido da página Crescer sem violência no Facebook.Minha infância foi normal.
Sim, houve algumas coisas boas e algumas coisas ruins - mas assim é a vida.
Minha mãe ficava triste, distante ou com raiva quando eu não fazia algo direito ou agia mal, e meu pai às vezes me batia com um cinto -, mas foi para o meu próprio bem. Tudo isso me ajudou a tornar uma pessoa melhor - e eu agradeço por isso.
Sim, às vezes eu me sinto muito deprimido, solitário ou vazio - mas todos nós nos sentimos assim.
Meus pais eram rígidos, mas eles me amaram e deu tudo certo.
Sim, algumas pessoas foram abusadas na infância, mas eu não, não tenho trauma algum.
Eu olho para essas pessoas e posso ver facilmente os sintomas dos traumas de infância. Eu vejo crianças sendo abusadas, e eu vejo os adultos com numerosas feridas internas por terem sido traumatizados. É óbvio para mim. Vejo traumas de infância e seus efeitos ao meu redor a todo momento, em todo lugar. Isso acontece atualmente e sempre aconteceu em qualquer momento na história humana.
Para mim, as pessoas que negam parecem querer dizer algo assim:
Minha perna está sangrando muito, e eu estou mancando – Mas eu tenho uma perna forte, saudável e totalmente funcional.
Você vê todas essas pessoas sangrando? Elas estão muito bem.
Sim, eu fui esfaqueado na perna - mas eu mereci e foi para o meu próprio bem!
Claro, se as pessoas dizem que a sua infância foi normal, ou seja, como a das outras pessoas, então elas estão certas. No entanto, "normal" (=comum) não significa normal, isto é, saudável e feliz - significa apenas que o normal é a norma social.
Mas se especificamente trauma de infância e seus efeitos são fenômenos tão comuns, hoje e historicamente, então por que tantas pessoas negam?
As razões fundamentais são:
1. Amnésia dissociativa
Você conhece pessoas que não se lembram de sua infância ou lembram muito vagamente? Pessoas que não recordam de anos, ou mesmo décadas de suas vidas?
Quando as crianças experimentam trauma severo e prolongado, elas muitas vezes esquecem, pois sentem que reter esta informação em sua consciência pode ser muito perigoso. Quando se é criança em geral é isto que acontece. Portanto, crianças traumatizadas não têm outra escolha a não ser se dissociar. Isso significa esconder suas experiências dolorosas no inconsciente.
Estas memórias não surgem de forma consciente se nós não estivermos emocionalmente preparados para tanto. Quando as pessoas começam a se curar e crescer mais fortes, elas lentamente começam a relembrar e lidar - embora às vezes com bastante sofrimento – com informações importantes a respeito de suas vidas.
2. Ignorância e indiferença
As crianças não sabem o que é abuso, negligência, abandono, trauma, estresse pós-traumático, saúde mental, infância saudável, como um ser humano normal parece, e como um relacionamento saudável é. As crianças não têm ponto de referência, comparação; elas não compreendem a história psico-emocional dos pais e o contexto socioeconômico a que pertencem. Elas só sabem o que vivenciam e são ensinadas.
Por exemplo, se a mãe bate no filho, a criança não compreende todas as circunstâncias complexas que levaram a isso. (Muitas vezes, nem tampouco a mãe entende.) O que toda criança sabe é que sua mãe a está machucando e isso dói - e que ela precisa da mãe para sobreviver. Portanto, é uma experiência extremamente traumática, e as circunstâncias que levaram a isso não anulam as reações e emoções da criança.
Quando a criança traumatizada cresce sem ter investigado a sua história e as questões de trauma e de saúde mental, ela permanece ignorante e indiferente. Infelizmente, a maioria das pessoas são ignorantes e indiferentes a respeito. Muitas delas fazem de TUDO para permanecer na ignorância - e grande parte consegue – já que analisar o próprio passado e as pessoas ao seu redor é extremamente doloroso para elas. Mais doloroso do que não viver.
Portanto, não é de se surpreender que exista tanta disfunção em torno de nós, e que o entendimento de saúde mental seja tão distorcido.
3. Síndrome de Estocolmo
Crianças que vivem em um ambiente insalubre dissociam e distorcem a realidade, para conseguir sobreviver. "Minha mãe é ruim para mim. Eu preciso da minha mãe para sobreviver. Eu não posso sobreviver se minha mãe for ruim, e eu não posso ter outra mãe. Então, minha mãe é boa."
Síndrome de Estocolmo é um fenômeno psicológico onde a vítima desenvolve empatia pelo seu agressor, o justifica e o defende, ou mesmo experencia sentimentos agradáveis em relação a ele (por exemplo, acha que existe amor entre eles). Este vínculo doentio pode ser visto entre uma criança e seu cuidador, uma vítima de abuso sexual e seu molestador, em relacionamentos amorosos ou amizades patológicas, e em outros tipos de relação onde a disparidade de poder está presente.
4. Regras disfuncionais/imposição de culpa, vergonha e medo
Ame seus pais! Respeite os mais velhos! Escute as autoridades! Seja bom/boa [ou seja obediente]! Não confie em si mesmo, você não sabe muito! Não faça perguntas! Não responda! Não cometa erros! Não se sinta assim! Supere isso! Meninos não choram! Boas meninas sempre fazem o que lhes mandam fazer!
Se as crianças estão traumatizadas e não lhes é permitido julgar racionalmente o comportamento dos seus pais e de outras pessoas, elas começam a idealizá-los, culpam a si mesmas, e justificam os abusos que sofreram. Esta é a origem da culpa crônica, vergonha, sentimento de culpa e falta de confiança em si mesmo. Emocionalmente, isso é muito doloroso, por isso as crianças (que mais tarde se tornam adultos) tentam evitar essa dor, se livrar dela ou aliviá-la. É mais fácil simplesmente dizer: "Minha infância foi normal", e continuar o processo de dissociação.
5. Incapacidade de pensar racionalmente
Porque a maioria das pessoas já experimentou algum trauma significativo relacionado à cognição e acabou se tornando um adulto que não aprendeu a pensar racionalmente - ele não tem a habilidade para fazê-lo de forma apropriada. Muitas pessoas não sabem como avaliar objetivamente a si mesmas (por questões de auto-estima), aos outros (por questões de falta de confiança e bom senso), e ao mundo em si (por falta de compreensão fundamental sobre como o mundo funciona e várias distorções da realidade). Falta a estas pessoas não apenas a compreensão do que é verdadeiro, mas a capacidade de como descobrir se algo é verdadeiro ou falso.
Uma vez que essas pessoas têm déficits cognitivos, ou seja, falta de habilidade para raciocinar logicamente, suas crenças, sua visão de mundo, seus pontos de vista corriqueiros estão geralmente baseados em emoções que eles não entendem, e não numa avaliação racional e complexa dos fatos em si. Quando se sentem bem, então é bom ou verdadeiro. Quando se sentem mal, então é ruim ou falso.
Nossa cultura é baseada na negação, na insegurança, em regras inconsistentes, na conformidade, e no apelo emocional - e não na verdade, na empatia genuína, em princípios consistentes e universais, na individualidade e racionalização.
6. Medo social
Assim como as crianças, na maioria dos casos não se permite que as pessoas falem sobre os abusos que sofreram. Como adultos, as pessoas evitam reconhecer os traumas que viveram e seus resultados, porque eles ainda temem a reação de outras pessoas: de zombaria, minimização, condenação, sarcasmo, incompreensão, defesa dos agressores, ataques, etc.
Se uma Pessoa A diz à Pessoa B que a Pessoa A teve uma infância dolorosa, e que ela vê os resultados do abuso infantil em seu redor, a pessoa B, querendo ou não, vai ter que pensar na própria infância, ao menos um pouco. É muito provável que a pessoa B também tenha tido uma infância difícil. Portanto, para a pessoa B aceitar e validar a experiência traumática da Pessoa A, significaria - pelo menos até certo ponto - reconhecer a dolorosa verdade sobre seu passado, as relações atuais e a sociedade. Isso seria extremamente doloroso. É mais fácil para
a pessoa B agir de tal forma que faça a pessoa A parar de falar, de modo que a pessoa B possa reter a fantasia chamada "Eu estou bem; está tudo bem." Ela pode conseguir isso usando negação, minimização, zombaria, ataque com raiva, distração e outras táticas mencionadas no parágrafo anterior.
Mesmo que seja verdade que sejamos adultos agora, é uma situação diferente, não somos crianças indefesas mais, e podemos falar a verdade; mas tais reações sociais para muitas pessoas ainda podem ser muito dolorosas e re-traumatizantes. Pessoas [tóxicas] vão fugir ou atacá-lo por falar sobre o abuso de crianças. Trauma infantil ainda é tabu e "norma" na sociedade atual - e falar "mal", ou seja, a verdade sobre as pessoas que tinham poder sobre você (seus professores, padres, e, especialmente, membros da sua família) - não é aceitável. Portanto, é compreensível que, apesar de algumas pessoas conhecerem em algum grau a verdade, eles ainda podem ter medo de falar sobre o assunto abertamente.
7. Culpa parental
É ainda mais difícil de olhar para o tema do trauma de infância, se você já tem seus próprios filhos. Neste caso, você não está apenas lidando com todos os complexos desafios mencionados acima, mas existe uma camada adicional de dificuldade: a responsabilidade parental. Se você tem filhos antes de resolver a sua própria história pessoal e curar suas feridas internas, você inevitavelmente irá traumatizá-los (não importa se isso acontecer de forma deliberada ou por ignorância e com a melhor das intenções - ver Razão # 2).
Se você é pai/mãe, então esse assunto é extremamente difícil de explorar, porque você não está apenas processando o seu relacionamento consigo mesmo, seus pais, professores, amigos, parceiros românticos, sociedade em geral; mas também com o seu filho – alguém por quem você é responsável. Para entender que você vem sofrendo décadas de traumas graves e que você tem inúmeras feridas internas é bem difícil. Mas se você já tem seu próprio filho e começa a perceber o trauma que eles sofrem por sua causa, então todo este processo é mais difícil ainda, é extremamente doloroso.
8. Falta de empatia
Já escrevi sobre a empatia em artigos anteriores, portanto, não vou me repetir aqui. Mas em suma, a empatia é provavelmente um dos fatores mais importantes para acabar com o ciclo de violência e viver uma vida verdadeiramente próspera. Você não pode sentir empatia genuína ou simpatia para com os outros, se você estiver emocionalmente desconectado de si mesmo e de sua criança interior. E você não pode ter uma verdadeira empatia ou simpatia consigo próprio se você não tiver feito uma quantidade significativa de auto-análise.
Adendo
Provavelmente, há mais razões para que as pessoas neguem os traumas de infância e seus efeitos, e, como você pode perceber, eles estão interligados.
A negação do trauma infantil, em geral, está relacionada a medo/segurança ("É perigoso pensar ou falar sobre o que sinto"), e à disfunção do próprio aparelho emocional e cognitivo. Esta é uma esfera extremamente dolorosa para explorar, e isso requer muita coragem, capacidade mental, força, determinação, paciência, apoio e outros recursos.
Então, para aqueles que estão nesta jornada de auto-análise, que estão corajosamente tentando romper o ciclo de violência, curar e prosperar - Eu te admiro! Sei por experiência própria o quanto é difícil; pode ser uma experiência muito dolorosa, triste, solitária, estressante, e às vezes aparentemente sem esperança; então eu realmente admiro a sua coragem.
Se você quiser, pode me considerar seu aliado - mesmo sem me conhecer. E, claro, você é sempre bem-vindo para deixar um comentário ou entrar em contato comigo através de qualquer outro meio.
Texto original publicado em: http://blog.selfarcheology.com/2013/10/why-people-deny-childhood-trauma-and.html
Autoria: Darius Cikanavičius, terapeuta e consultor emocional.
Tradução: Andréia Stankiewicz/Crescer Sem Violência
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