12 de abril de 2014

A origem do "treinamento de sono" na Alemanha - Tradução de artigo do site PHD in Parenting

Procurando entender de onde veio essa tradição de ignorar o choro dos bebês, encontrei esse artigo que aponta evidências de que tais hábitos tenham surgido em tempos de II Guerra Mundial. Resolvi traduzi-lo, pois é bem interessante, vale a pena ler!


Todos nós já ouvimos dizer que os bebês precisam ser ensinados a dormir durante a noite e que é necessário deixá-los chorar para alcançar este objetivo.
No entanto, as práticas de criação de filhos ocidentais de colocar os bebês dormindo em camas separadas (muitas vezes em quartos separados) e ignorar seus gritos durante a noite não são seguidas assim desde sempre.
Quando é que a nossa cultura mudou, de uma abordagem suave para promover o sono saudável, à ignorar os gritos de crianças na tentativa de ensiná-los a se auto-acalmarem?
Todo mundo está familiarizado com autores como Ferber e Weissbluth (ou se você não estiver, tudo bem ... nem vai querer), mas a idéia de deixar os bebés chorando não começou com eles. A única história do método do choro em países de língua Inglêsa que já vi é uma breve discussão no artigo "Chorando por conforto" de Aletha Solter. Ela escreve:

"Depois da revolução industrial, no século 18, a noção de "estragar" a criança generalizou-se nos países industrializados, e as mães foram advertidas para não segurar ou responder aos seus bebés por medo de criarem monstros exigentes. Se a casa era grande o suficiente, os pais mudariam berços para um quarto separado. Com as crianças dormindo sozinhas em outro quarto, era fácil para os pais acompanharem o conselho do "grite mais alto", mesmo que fosse contra seus instintos.

O declínio da amamentação contribuiu ainda mais para a separação de mães e bebês. Com mamadeira desde o nascimento, o último elo restante para o corpo da mãe foi removido, resultando em métodos deploráveis, individuais de criação de filhos que predominaram nas civilizações ocidentais durante o século 20.

 
Dr. Luther Emmett Holt, um pediatra americano e especialista em educação infantil, foi a primeira pessoa a fazer do método do choro uma abordagem explícita e popular nos EUA. Mais de 100 anos atrás, o seu livro best-seller, "Cuidado e a alimentação de crianças" foi a bíblia da educação infantil da época. O livro é estruturado como uma série de perguntas e respostas. Uma pergunta é: "Como saber se uma criança chora devido ao seu temperamento, hábito, ou para receber carinho?" O próprio texto desta questão revela a tendência de Holt. Sua resposta: "Deve-se simplesmente deixá-la chorar. 'Isso exige frequentemente uma hora, e, em alguns casos, duas ou três horas. Um segundo esforço raramente durará mais do que dez ou quinze minutos, e um terceiro será raramente necessário. " Várias gerações foram educadas de acordo com este conselho.
Dr. Benjamin Spock, o guru de médicos e pais da segunda metade do século 20, recomenda uma abordagem semelhante, em seu livro best-seller "Bebê e crianças". Versões modificadas da mesma abordagem do choro podem ser encontradas em muitos dos livros populares parentais da atualidade."


Embora o breve resumo de Solter seja interessante, não nos diz muito sobre o porquê ou como os conselhos do Dr. Emmett Holt se tornaram aceitáveis e populares. Além de entender o que ele aconselhou, o contexto histórico seria mais útil para a compreensão das condições em que as suas recomendações foram feitas.
Depois de ler alguns dos meus posts, uma das minhas leitoras alemãs, Karin Bergstermann, me enviou uma cópia de um artigo que ela publicou sobre as mudanças em conselhos sobre o sono infantil do início do século 19 até hoje. Seu artigo, "Seit wann müssen Kinder schlafen lernen?" (Desde quando as crianças precisam aprender a dormir?) Apareceu pela primeira vez no German Midwives Journal (Deutschen Hebammen Zeitschrift) em agosto de 2010 e desde então tem sido republicado sob sua permissão em um site anti-treinamento de sono alemão (pode usar o Google Translate para obter uma tradução aproximada). Achei o artigo fascinante e com a permissão de Bergstermann, estou fornecendo um resumo em Inglês do artigo para os meus leitores (e eu traduzi para o português):

Desde quando as crianças precisam aprender a dormir?
( " Seit wann müssen Kinder schlafen lernen? " )

Bergstermann começa seu artigo com a descrição do contexto cultural atual - aquele em que as mães são pressionadas a ignorar seus próprios instintos e implementar métodos de treinamento do sono, que vão ensinar os filhos a dormirem durante a noite . Se a criança não dormir ou dormir na cama dos pais, isso é visto como uma falha dos pais. A sociedade espera que as crianças durmam quando e onde os pais quiserem. Bergstermann pergunta de onde essa expectativa vem.
Para responder a essa pergunta, Bergstermann analisa conselhos dados aos pais na Alemanha da década de 1830 . A literatura da década de 1830 inclui livros de médicos e professores de medicina (por exemplo, Christoph Wilhelm Hufeland , Adoph Menke ), que escreveram sobre o sono infantil. Eles observam que, por exemplo, aos seis meses de idade os bebês podem se acostumar a dormir em horários específicos do dia e que um ambiente de sono adequado deve ser criado para facilitar isso ( por exemplo, desligar as luzes durante a noite , evitando o ruído). Eles mencionam que as mães podem tentar desmamar seus bebês a noite (por exemplo, pela utilização de outros métodos para acalmar a criança) e que não deve se apressar para confortar o bebê imediatamente, mas em vez disso deve-se deixá-los que se acalmem sozinhos. No entanto, eles também observam a importância de cuidar do bebê dia e noite e indicam que, se o bebê não se confortar por conta própria e se um suave balanço não ajudar, outros truques não devem ser usados para fazer a criança dormir.

Bergstermann então menciona o trabalho de outros autores, no final dos anos 1870 e 1880. Estes autores (incluindo Hermann Klencke , Ernst Kormann , e William Thierry Preyer ), escreveram sobre a introdução de horários de sono regulares no início da vida do bebê e também falaram sobre as expectativas com relação ao "sono normal" (por exemplo, recém-nascidos não dormirem por mais de 2 horas de cada vez, as crianças não vão dormir regularmente até cerca de 17 meses). No entanto, eles também enfatizaram que nenhuma criança deve sofrer de sede durante a noite e que os pais não deveriam ser implacáveis na introdução de horários de sono.
Marie Susanne Kübler (que escreveu livros para as donas de casa na década de 1890 ) e Dr. Otto Köhler (que escreveu um livro sobre o cuidado de crianças, em 1921 ), ambos concordaram que cerca de oito horas de sono é uma necessidade absoluta para as mães (caso contrário iriam ter problemas com a produção de leite). Ambos recomendavam os horários de amamentação estabelecidos pela mãe, ( por exemplo, quando sentiam que os seios enchiam de leite, ou em horários específicos com intervalos de tempo ao invés da livre-demanda). No entanto, Köhler também notou que nem todos os bebês iriam facilmente dormir por oito horas e que era melhor dar-lhes uma alimentação noturna do que tê-los perturband a todos com horas de choro durante a noite. Em geral, no entanto, este período de tempo parecia marcar o início do sono sendo caracterizado como um problema, e a criança sendo considerada a fonte desse problema. ( Curiosamente , o livro de Kübler , "Das Buch der Mütter " , saiu em 1891, cerca de 3 anos antes do livro de Emmett Holt que me referi na introdução) .

Em 1933, o pediatra Dr. Philipp Niemes escreveu que o sono é incrivelmente importante para as mães e bebês e que o descanso noturno precisava ser rigorosamente cumpridas. Ele escreveu que era especialmente importante não pegar a criança durante a noite, mesmo que ela gritasse. Ele disse que atender o bebê durante a noite poderia levar à superalimentação, o que acarretaria em mais doenças. Na mesma época, em 1930, o Dr. Walter Birk e Dr. A. Mayer escreveram que os recém-nascidos chamam no meio da noite, mas que as mamadas noturnas eram desnecessárias para a criança e perturbadoras para a mãe. Eles também sugeriram uma variedade de truques que poderiam ser usados ​​para fazer a criança a dormir melhor. Finalmente, se nenhum desses truques funcionasse, a mãe devia impor absolutamente descanso noturno. O "método mais heróico " para uma jovem mãe, em sua opinião, era deixar o bebê chorar. Em seu trabalho, o comportamento da criança é subitamente caracterizada não apenas como "não-saudável", mas também como ruim e  de necessidade de correção. O sono se tornou um campo de batalha e a criança era o inimigo. Bergstermann observa que a influência da ideologia nazista aqui é inconfundível e que a necessidade de retratar a criança como um problema a ser corrigido, foi politicamente motivada.

Em última análise, Bergstermann observa que o desejo de uma boa noite de sono sempre existiu , mas a maneira que as interrupções do sono ( especialmente de crianças ) são tratadas mudou ao longo do tempo. Isso criou uma grande pressão sobre os pais e suas buscas por técnicas que eles mal podem suportar (como deixar o bebê chorar) ao invés de cuidar amorosamente de seus bebês durante a noite.

Opinião da autora do post original:
No geral, como eu li a revisão da literatura de Bergstermann, notei duas grandes mudanças. A primeira foi quando o conselho passou de informação de natureza médica (informação de desenvolvimento de sono normal de médicos e professores de medicina) para o conselho "dona de casa" (dicas e truques que beneficiariam a mãe, mas que não necessariamente consideram os interesses da criança). A segunda mudança foi quando o conselho se politizou, transformando-o de algo que as mães podem querer considerar a algo que elas deveriam fazer, criando a "boa mãe" e colocando-a contra a "mãe ruim", que "estraga" e mima seu filho.


Fonte original em Inglês:  PhD in Parenting

6 de abril de 2014

Sobre Páscoa, Lebres e Ovos


Mamãe, o quê é a Páscoa? 
Olha filho, há muuuuuitos anos atrás, os primeiros povos que viviam na Terra costumavam comemorar as Estações. Nessa época do ano, eles comemoravam a Primavera no hemisfério Norte. A Terra fértil era simbolizada através das lebres (mamães dos coelhos, que têm muitos coelhinhos) e dos ovos pintados.
Depois de bastante tempo, com a passagem de Jesus pela Terra, as pessoas passaram a comemorar o renascimento dele nessa mesma época do ano. E tem outros povos ainda hoje que comemoram de acordo com o que sentem no coração. Você, meu filho, comemore o que e como quiser tá bom?
Mas eu vou ganhar ovo de chocolate?
Vamos ver, filho, vamos ver...
Fonte: http://desenhospagaos.blogspot.com.br/

Maternidade e a luta diária pela desconstrução do machismo

Desde adolescente me interesso por causas libertárias, incluindo o Feminismo e a igualdade de direitos entre pessoas de diversos gêneros sexuais. Mas confesso que algumas vezes me peguei reproduzindo (mesmo que no inconsciente) frases feitas ou pontos de vista totalmente parciais e mergulhados em machismo.
Se fosse contar quantas vezes ouvi a frase: " Esse seu filho vai dar trabalho com a mulherada", com certeza já teria perdido as contas. Foram - e têm sido inúmeras vezes que as pessoas me abordam assim.
Quando descobrem que em casa as tarefas são divididas sem distinção, e que meu marido fica com a parte de cozinhar já que tem habilidade pra isso, costumam dizer: "Nossa que paizão hein! Acho lindo homem que cozinha..." Isso porque hoje em dia quem não sabe cozinhar, tem que se virar né?
Interessante é pensar que ninguém costuma achar "incrível" que uma mesma mulher consiga dar conta de trabalhar fora, criar um filho pequeno e estudar.
A desconstrução do machismo é uma luta diária. É se policiar, estar aberta a entender a importância do feminismo e praticá-lo no dia-a-dia, com o objetivo sempre de aumentar a igualdade entre homens e mulheres.
Daí você me pergunta: Como?
Bem, isso eu tenho descoberto lentamente. Desempenhando o papel de pais, a responsabilidade e obrigação de criar e educar os filhos é de AMBOS. E cabe a ambos a missão de o fazer de forma para que as crianças de hoje, sejam adultos melhores no futuro.
Se é difícil? Sim. Mas não saberia fazer de outra forma, apenas repetindo modelos de criação como se fossem fórmulas prontas.
Não acho bonito ou fico feliz quando escuto certas besteiras. Não acredito que existam "brinquedos de meninas e brinquedos de meninos". Não quero que meu filho seja uma pessoa superficial, que usa as outras apenas para o próprio ego.
E fico indignada quando vejo adultos criando suas filhas para serem submissas, também.
Precisamos nos melhorar como seres humanos, para que nossos filhos sejam humanos melhores também. Livres de preconceitos.
Alguns textos interessantes para referência: